
Sintya motta

Minha relação com o guarda-roupa nem sempre foi essa que tenho hoje. Levei muitos anos pra descontruir a ideia de que o modo como eu deveria me vestir deveria se adequar aos “certos” e “errados” já preestabelecidos socialmente, numa série de combinações já formatadas e que, portanto, serviam pra mim e pro mundo todo. Mas admito que essa não era exatamente uma das questões nas quais eu parasse pra pensar. Até então, eu lidava com tudo isso de um jeito mais “prático”: não pensando a esse respeito.
De fato, não era algo pelo que eu me sentisse “prejudicada”. Não quer dizer que “qualquer coisa servisse”, mas também não quer dizer que isso importasse. Pra mim, “roupa era roupa”, e não a minha segunda pele. E, ainda com esse pensamento foi que, aos poucos, surgiu-me o interesse em aprender um pouco mais sobre esse universo.
Depois da graduação em Administração, da passagem pelo Marketing, dos cursos em teatro e em arte-educação, de me casar, de me tornar mãe e de me especializar em projetos de organização, acabei investindo na pós-graduação em Consultoria de Imagem e Estilo. Antes mesmo dessa pós, descobri que, profissionalmente, muito mais do que com a organização de todos os outros espaços, eu me identificava com a organização dos closets. Muitas vezes, encontrava-os abarrotados de peças que as pessoas não usavam, mas das quais tinham alguma dificuldade de se desprender. Nesse período, aliás, foi que também senti a necessidade de fazer uma imersão no Italian Image Institute, em Milão.
Contudo, embora eu tenha aprendido muito com a teoria, não foram somente os estudos acadêmicos que me deram a apropriação desse novo saber, de um modo realmente mais efetivo: eu precisei colocá-lo à prova no meu próprio corpo. E “precisei” também que isso acontecesse como um desafio pessoal bem num momento em que me senti muito deprimida não só nesse novo cenário instaurado pela chegada da pandemia, como também pelo próprio fato de que, pouco antes do início dela, eu já estava acompanhando de muito perto a batalha da minha irmã contra o câncer.
A minha irmã é uma dessas pessoas que sabem naturalmente o que demandei tempo pra assimilar. Enquanto fui ler Adam e Galinsky e conhecer a cognição do vestuário (enclothed cognition) pra chegar à influência que as nossas roupas exercem sobre o nosso humor, a nossa autoconfiança, a nossa produtividade e a nossa saúde, ela estava dentro de um quarto de hospital, arrumada, maquiada, disposta, interagindo com todos por meio de um largo sorriso acompanhado de um batom vermelho que sempre lhe caiu muito bem. E que, mais do que simplesmente “lhe cair muito bem”, agora vejo como um daqueles autocuidados diários que são decisivos pra que ela se mantenha fortalecida no combate à doença.
A essa altura, já não me restava qualquer dúvida de que, como símbolos, as roupas inspiram atitudes; o real alcance disso, porém, foi algo que só compreendi depois de dar início à minha #40tenasempijama. Em meio a todo esse “novo normal”, era a hora de descobrir quais atitudes as minhas roupas me inspiravam. E foi nesse contexto que realmente experimentei a diferença que todo esse conhecimento é capaz de fazer, inclusive por mim. Então, por que não por você?
Como estrategista em cognição de vestuário e imagem, é certo que também me importa a impressão que você pode e quer causar nos outros por meio daquilo que você veste. Mas os aspectos pelos quais me interesso ainda mais são justamente os que vêm antes de tudo: qual é o impacto que a sua imagem provoca sobre você? E como o seu guarda-roupa impacta nessa imagem que você constrói a seu próprio respeito?
Eu acredito que conforto é estar bem na nossa própria pele. Que se adequar a uma determinada ocasião ou aos próprios eventos do nosso dia a dia não tem a ver com a necessidade de se moldar ao padrão: tem a ver com encontrar a sua própria identidade dentro de cada formato e de imprimir nele a sua própria assinatura. E que, nesse universo da imagem, nada precisa ser rígido: se você quiser, só precisa ser congruente.
Essa é a verdade que me orienta no meu trabalho: não estou aqui pra ajudá-la a comunicar ao mundo quem você não é. A minha proposta é contribuir pra que, cada vez mais, você seja nada menos do que a sua melhor – e mais autêntica – versão.